Arquivo do mês: março 2015

Vontade de falar para dentro de mim

 

Platónico

Edgardo Cardozo

Hay un sol, que enciende mi vida…
Que cura mi herida, que camina suavemente sobre mi…

Y me lleva, como si me abriera
Paso entre la selva, como un rey..

Casi sin saber, desliza su mirada tibia…
Abriendose camino, en mi corazon…

Casi sin saber, desliza su mirada clara.
Transformando al mundo en un segundo…

Hay un sol, que enciende mi vida…
Que cura mi herida, que camina suavemente sobre mi…

Y me lleva, como si me abriera
Paso entre la selva, como un rey..

Casi sin saber, desliza su mirada tibia…
Abriendose camino, en mi corazon…

Casi sin saber, desliza su mirada clara.
Transformando al mundo en un segundo.

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O perdão do amor demais

anima

Talvez seja pouco conhecida a história de Lilith, a primeira mulher da criação. Nascida da mesma matéria– e em igual potência – a Adão, a personagem banida da Bíblia possui uma análise mitológica dificílima. Para encurtar a história, ao perceber que não poderia dominar o amante, a filha de Deus se vê em um dilema: a igualdade ou a submissão.

Sua alma, no entanto, escolhe não sucumbir à dominação masculina. E ela voa para longe do Éden, inadvertidamente. Três anjos saem à sua caça. Insubordinada, Lilith é alvo da mais cruel das maldições: seria transformada em demônio e cem de seus filhos seriam mortos a cada dia. Ela, por sua vez, retribuiria a dor: atacaria mulheres e crianças recém nascidas e roubaria o sêmen dos homens durante o sono, na tentativa desesperada de repor os descendentes assassinados.

Em termos arquetípicos, é possível comparar o mito de Lilith à anima junguiana. Adão teme o mistério e a obscuridade de sua parte feminina, a qual nega por considerá-la uma ameaça às suas forças. Sua atitude é uma recusa à interioridade, à plenitude e ao processo de individuação.

Astronomicamente, Lilith representa a Lua Negra, quando o satélite se encontra no ponto mais distante da Terra. Exilada do planeta. Em astrologia ela exprime o sacrifício ao todo, à integração cósmica. Sua influência interfere diretamente na fertilidade, na abertura ao novo, na inevitável verdade ontológica. Do útero – a escuridão suprema – nasce a vida.

A liberdade da mulher torna-se, pois, um fardo: não se pode amar demais. Não invadir o que não foi nomeado. É preferível cristalizar a ignorância do que iluminar conteúdos submersos. Proibido como o fruto da serpente (que também, em algumas leituras, é uma animalização de Lilith). A sabedoria dual luz e sombra deve ser evitada, pois não se mensura os limites do conhecimento, em profundezas.

A etimologia, contudo, desvenda os mais belos dizeres sobre o símbolo de Lilith. De origem suméria, “Lil” significa ar. Respirar, concomitantemente, em latim, remete à devolução ao espírito (re – “de novo” e spirare – espírito).

Lilith, expatriada deusa, é um presságio de nosso destino: ao nos defrontarmos com os escuros, feridas impronunciáveis de nós mesmos, preferimos a rejeição. Tememos a dispneia. Revirar os naufrágios, emergir o caos, abraçar a coletividade. Abdicar do ego em prol da igualdade nos é insuportável. Contudo, será possível atingir a clarividência, nas superfícies de nossas almas?

Este texto é uma homenagem ao meu amigo amado Bruno Padilha.

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Graças a mim

puppetFreedomSketch

Nos últimos anos pude perceber, principalmente pela internet, a apropriação superficial de longínquos conhecimentos sobre o funcionamento do cérebro e seu vínculo com a busca pela felicidade. A ascensão meteórica da “autoajuda Namastê” tornou-se um fenômeno que acomete as mentes contemporâneas, com promessas de plenitude e mudanças estruturais imediatas. Há muita gente que já não se permite a utilização da palavra “obrigado”, por exemplo, como forma de agradecimento.

Não é de se estranhar que exista uma alienação quanto à origem da palavra, quando nos deparamos com simplificações de conceitos tão densos quanto os arquétipos.

Contudo, meu incômodo pode se transformar em pesquisa. Fui, assim, encontrar-me com São Tomás de Aquino, em texto brilhante do professor Jean Lauand para resgatar as origens etimológicas, necessárias à compreensão da humanidade como signo primordial das linguagens.

Agradecer é uma palavra sublime: está presente em diversas línguas, mesmo que originadas por radicais totalmente distintos. São Tomás de Aquino já testemunhava o nascimento dos arquétipos, ao proferir que: “línguas diferentes expressem a mesma realidade de modo diverso.”

Sua composição, em inglês, concilia os verbos to think e to thank na mesma família etimológica. Não se poderia agradecer, caso não tivéssemos a reflexão como base ancestral do conhecimento.

Arigatô também possui um cordão umbilical semelhante: “a existência é difícil”, “é difícil viver”, “raridade”, “excelência (excelência da raridade)”. Toda dádiva é uma raridade.

Em latim, a graça possui sentidos ainda mais complexos. Sua formulação original está atrelada a três movimentos: receber a benção de alguém, sem quaisquer merecimentos; compreender o sentido de dom, gratuitamente dado ao indivíduo, sem o buscar; retribuir, como dever, à graça que foi generosamente delegada.

A expressão em português, derivada do latim obligare, “ligar por todos os lados, ligar moralmente” vincula-se, pois, à terceira e mais nobre das dimensões de São Tomás de Aquino, ou seja, eu me sinto muito obrigado em lhe retribuir esta gentileza.

Quantas vezes, ao citarmos essa expressão corriqueira, damo-nos conta da sublimidade de seu poder? Se estou obrigado a retribuir ao Universo, conecto-me verdadeiramente em transferir esse presente, de forma legítima e muda, desprovida de alardes. Uma obrigação em silêncio e em confluência cósmica.

Por fim, nos vagos ensinamentos da autoajuda, nunca há um fortalecimento verdadeiro, no que diz respeito à autoestima e ao amor próprio. Nunca a gratidão é oferecida à própria pessoa: deve-se ao planeta, aos outros, aos temporais, mas e a si mesmo? Não deveríamos nos focalizar em nossas virtudes, excelências dadas a nós em gratuidade?

Hoje, ao trabalhar com processos e ferramentas voltados para o autoconhecimento, percebo que pouco nos colocamos em contato com os nossos dons: queremos sempre saber a inferioridade que nos habita.

A mudança comportamental verdadeira, a que provoca uma alteração significativa na autoimagem, é um processo muitas vezes doloroso. Revivemos, por muito tempo, máscaras deformadas de nós mesmos, que tentam nos colocar em velhos personagens. Mudar, para o cérebro, dói.

Portanto, é essencial dialogar com os dons, com as vocações ontológicas. Descobrir, uma por uma, as preferências estruturais e tirar proveito dos talentos. Estar obrigado a transcender-se. Saber-se abençoado por seus próprios contornos.

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