Arquivo do mês: outubro 2012

Goles lúcidos anunciando eternidades…

 
BEBO DA VIDA
GOLES
BASTA DE ALUCINAÇÕES
NÃO TENHO TEMPO
PARA EMBRIAGUEZ.
QUERO RESTAR
SÓBRIA
PARA NÃO OFENDER
OS INSTANTES.
OS ANOS PASSAM
PASSARAM
EU NÃO OS VI
OUTROS
GASTEI-OS
COM DORES FÚTEIS
ASSIM
ME VEJO
TRANSPORTANDO
IDADES
 QUE NÃO  VIVI.
DA VIDA
APENAS GOLES
LÚCIDOS
ANUNCIANDO
ETERNIDADES.
Miriam Portela

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Quando Vinícius invadiu minha memória…

Dialética

É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste…

Vinícius de Moraes

 

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O poeta é redondo!

O redondo é, com certeza, de inestimável valor para a compreensão de uma imagem poética. Sem medo de parecer óbvia, nesta afirmação.Toda imagem poética é redonda, basta-se por si mesma, se completa. A concepção de redondeza elimina os pontos de partida e os pontos de chegada. Elimina o acabamento do ser poético.

A redondeza da imagem é abertura de possibilidades novas, a qualquer momento. Cada vez que um leitor é tocado por uma imagem, ela adquire novas expressões de ser, ultrapassando o tempo e o espaço.

O redondo é a forma do devaneio do universo. Nada mais claro para compreender a imagem poética, do que colocá-la no plano dos universos. Pois as poesias são imensos universos de sentidos.

Outro aspecto importante da imagem redonda é a capacidade de abrigar o vazio. Muitas vezes há tão somente o contorno, o que dá forma. O centro é sempre vazio, sempre o nada. A imagem sempre nos fala do nada e, portanto, das inesgotáveis possibilidades de ser. Pode-se enxergar a imagem da redondeza plena como uma imagem de concentração. O redondo é sempre um centro concentrado, permeado pela profundidade:

“E, para um sonhador de palavras, que paz na palavra redondo! Como ela arredonda serenamente a boca, os lábios, o ser do alento! Pois isso também deve ser dito por um filósofo que acredita na substância poética da palavra. E eu alegria, professoral, que alegria sonora começar a aula de metafísica, rompendo com todos os estar-aí, dizendo: “Das Dasein ist rund!” O ser é redondo. E depois esperar que o ressoar do trovão dogmático se acalme sobre os discípulos extasiados.” (Bachelard 2000, p. 241)

Abobadar os devaneios. Permitir-se enxergar os acontecimentos e as poesias como seres extremamente redondos. O acontecimento redondo torna o passado redondo e a vida redonda. Estarão, dessa forma, sempre dispostos a serem acometidos pela novidade, pelo novo sentido, pelo inesperado.

O poeta é privilegiado pela redondeza plena, pela capacidade de espantar-se a qualquer momento com o inexplicável mistério de todas as coisas que estão sempre em aberto. O poeta, este escravo da verdade, sabe melhor do que ninguém que o desvelamento de algo implica em um novo encobrimento. O poeta sabe que não existem axiomas. O poeta é redondo.

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