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Amar a solidão

“Mas tudo isso, que talvez um dia seja possível a muitos, o solitário pode prepará-lo desde já e construí-lo com suas mãos, que erram menos. Por isso, caro senhor, ame a sua solidão e a carregue com queixas harmoniosas a dor que ela causa. Diz que os que sente próximos estão longe. Isso mostra que começa a fazer-se espaço ao redor de si. Se o próximo lhe parece longe, os seus longes alcançam as estrelas, são imensos. Alegre-se com esta imensidade, para a qual não pode carregar ninguém consigo. Seja bom para com os que ficarem atrás, mostre-se-lhes calmo e sereno sem os atormentar com suas dúvidas, nem os assustar com uma confiança ou uma alegria que eles não poderão compreender. Procure realizar com eles uma comunhão qualquer, fiel e simples, que não se deverá necessariamente transformar à medida de que o senhor mesmo se transforme. Ame neles a vida sob uma forma estrangeira e tenha indulgência com os homens que, envelhecidos, temem a solidão a que o senhor se confia. Evite dar alimento ao drama sempre pendente entre pais e filhos o qual gasta muita força destes e consome amor daqueles; amor que, embora incompreensivo, age e aquece. Não lhes peça conselho e não conte com a sua compreensão, mas acredite num amor que lhe é conservado como uma herança e fique certo de que há nesse amor uma força e uma bênção a que não se arrancará mesmo se for para muito longe.

É bom o senhor abraçar antes de tudo uma profissão, que o tornará independente e entregará exclusivamente a si, em todos os sentidos. Aguarde com paciência, a ver se a sua vida íntima se sente limitada pela forma dessa profissão considero-a muito difícil e cheia de exigências , carregada de convenções e quase sem margem para uma interpretação pessoal de seus deveres. Mas a sua solidão há de dar-lhe, mesmo entre condições muito hostis, amparo e lar, e partindo dela encontrará todos os cominhos. Todos os seu desejos estão prontos a acompanhá-lo e minha confiança está consigo.”

Seu
Rainer Maria Rilke

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