Calei muitos
anos de calados dezembros,
quando o gosto da champanha azeda
combinava com todas as ânsias.
Calei muito
e não falaram por mim.
Aprendi sozinho
o que sozinho se aprende
do instante que não quer ser
mais que um instante,
e de nós, que nos matamos,
para ser esse instante.
Calei muito
e não fui reclamado:
minha voz não era a esperada.
Mas, o que disseram
durante o meu silêncio?
Poema “Lamento um tanto regressivo”
ALBERTO DA CUNHA MELO
No livro “Noticiário”, 1979